Avatar

Eis que veio a premiação da Academia e "Guerra ao Terror" foi eleito o melhor filme do ano. Ainda não o assisti. Ouvi em diversos comentários que trata-se de um filme de guerra diferenciado pois mostra o ponto de vista do soldado americano na guerra do Iraque. Hun... A princípio esse argumento não me convence muito... O que dizer de "Platoon", "Apocalypse Now" ou os mais recentes "Atrás da Linha Vermelha" e "A Conquista da Honra"?

Não vou alongar meu comentários a respeito de um filme que não vi. Pode realmente ser sublime. Fiz isso em relação à "A Vida é Bela", quando da disputa com "Central do Brasil", e queimei minha língua. O filme era ótimo. Assim falarei do que vi. E gostei.

Quando sai do cinema após assistir "Avatar" tinha a plena sensação de ter assistido a um grande filme. Não quis escrever nada aqui para fugir do "oba oba" que acontecia ao redor do filme.

Um grande filme, para além dos efeitos especiais e câmeras 3D. Toda aquela história. Uma analogia tão grande e bem feita sobre as diversas formas de dominação cultural existentes desde sempre em nosso mundo. Na tela eram os Navi. Poderiam ser inúmeros outros povos de nosso planeta.

Ao ler críticas sobre o filme quase que de forma unânime falavam do caráter ambiental do texto. Ok, ele está presente. Temos também um romance com ares de Pocahontas. Mas o texto vai além disso. Talvez as pessoas tenham ficado tão impressionadas com o que lhes, literalmente, saltava aos olhos que não conseguiram prestar atenção ao profundo.

Ontem durante a transmissão da premiação na Rede Globo vi por diversas vezes o José Wilker fazer comentários do tipo, a escolha da Academia mostrará o caminho do cinema. Se das produções baratas e de qualidade ou se das produções milionários e sem conteúdo. Aquilo, sinceramente, me deixou sem paciência. A singela produção "independente" ou o blockbuster?

Como se caso "Avatar" vencesse só teríamos filmes deste tipo no cinema. Uma profusão de "Transformers 3D". Se realmente a idéia era privilegiar o independente, barato e de qualidade, premiassem "Preciosa", um filme que ainda por cima foi feito quase que exclusivamente por negros. E, sem hipocrisia, sabemos que um filme assim chegar à premiação máxima do Oscar teria um impacto muito maior. Seria como reconhecer um legado de Spike Lee e cia. Ou ainda, finalmente reconhecessem Tarantino.

Mas não. A Academia escolheu o filme sobre uma guerra sem sentido, a qual os americanos não suportam mais. Pra quê falar de seres azuis de outros planetas quando jovens morrem diariamente no Iraque? Bingo, acertou em cheio o coração yankee. Talvez por isso o filme não tenha repetido o sucesso em Cannes, que preferiu premiar o elogiadíssimo "A Fita Branca".

Retomando "Avatar", parece que o pecado de Cameron foi ter recursos demais (tanto financeiros quanto tecnológicos) para contar sua história. Spielberg sofreu por anos com o mesmo problema e até hoje só emplacou como melhor filme "A Lista de Schindler"...

Como, novamente, Wilker disse, "Avatar" já havia ganhado o prêmio a que se propôs: ser a maior bilheteria da história. Soma-se a esse preconceito o fato de Cameron já ter vencido tudo com seu "Titanic". Talvez considerem que para um cara que fez "O Exterminador do Futuro" e "Aliens O resgate" já está de bom tamanho (ou foi até demais...). Talvez se "Avatar" fosse uma trilogia, tivessem coragem de reconhecer o valor da obra no último filme, como fizeram com o ótimo "O Senhor dos Anéis".